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A sobrevivência ameaçada

  • Foto do escritor: Antônio Isaías Ribeiro
    Antônio Isaías Ribeiro
  • 27 de nov. de 2019
  • 2 min de leitura

Os afundamentos dos navios Itagiba e Arará na proximidade de Morro de São Paulo, em agosto de 1942, provocaram grande alteração na vida local e de toda a borda litorânea que circunda as ilhas de Cairu; quebraram a rotina dos moradores, surpreendidos, amedrontados e comovidos com a quantidade de corpos sem vida chegando às praias e com a presença de náufragos necessitando agasalhos, alimentação e remédios imediatamente. Além de cuidados e socorro médicos que a Vila e as famílias de Morro não dispunham. Transferir os náufragos para Valença, em saveiro à vela, portanto movido à força dos ventos foi a providência mais imediata, levantando imensa onda de solidariedade da população nativa de Morro e Gamboa, como de Cairu e Valença. Provocaram também todo um conjunto de consequências sociais, econômicas e políticas. Convém lembrar que estávamos numa quadra de tempo de enormes carências materiais, escassos e tardos meios de comunicação, além de ambiente social com elevada presença de população analfabeta, portanto com meios mais acanhados ainda de informação. Aqueles nativos tinham então muito poucas informações da guerra que se desenrolava na Europa e outros espaços do mundo, bem como apenas especulavam sobre a participação do Brasil no conflito. Para aumentar a confusão em suas cabeças, veio o episódio da prisão de frades alemães e agentes públicos em Cairu e Valença, contribuindo para que os moradores buscassem explicações para o que estava acontecendo.

O quadro que se instala nestes dias de 2019 a partir da imensa tragédia ambiental provocada pelo derrame de petróleo, não apenas nas praias, as mais comentadas, mas no ambiente por inteiro, fechando aos mais pobres dentre os pobres de toda a borda litorânea, a sua única fonte de suprimento de proteínas e de complementação de sua renda monetária, lembra bem o trauma que viveram os moradores de Morro de São Paulo em 1942. Não somente MSP mas toda a vizinhança continental que circunda as ilhas de Cairu. Em 1942 era a guerra, o afundamento de navios brasileiros na proximidade de MSP. Hoje, um desastre ou um crime de enorme dimensão e de prolongamento desconhecido no tempo, deixando claro, por isso, que profunda revisão de planejamento há que ser feita, sem demora, pelos municípios de toda a área litorânea.

Preocupa-nos Cairu, com sua geografia tão especial, atingida por essa enorme tragédia, além das praias, em cada braço de mar interior e em cada canto de mangue. O homem pescador e a mulher marisqueira, que desde tempos antigos vivem da mão para a boca não têm meios para sustentar a sua mesa e de seus filhos, já de si muito modesta. Não cabe, por isso mesmo sujeitarem-se aos demorados trâmites de governo para a liberação de socorro financeiro. Eles não vivem no país, vivem no município!


A Isaías Ribeiro

Cairu, 31/10/2019

 
 
 

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