História econômica
- Antônio Isaías Ribeiro
- 9 de jan. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de jul. de 2020
A leitura de excelente livro de Luiz Walter Coelho Filho traz à luz evidências a provocar memória da história econômica do arquipélago de Cairu, núcleo fundador da colonização no espaço regional entre baías – o Baixo Sul da Bahia. Tomara que venham análises. A primeira evidência seria a extrema dependência do meio natural que enfrentam as populações de uma ilha ou de um conjunto de ilhas, frente às limitações dos meios de transporte e comunicações a que estão sujeitas, ainda que se trate de posição geográfica próxima de terras continentais.
Nos anos da segunda guerra mundial e até por mais duas décadas, para atingir ou sair de qualquer ponto do arquipélago, o meio era a embarcação acionada por força humana (a canoa a remos) ou à força dos ventos, os saveiros entre as localidades interiores e barcos maiores entre cada ilha e o meio externo. O mais efetivo e comum deles, as saídas ao mar aberto para a Bahia (Salvador) e Recôncavo.
Em 1942, o afundamento de navios mercantes brasileiros nas águas do arquipélago, mostrou toda a tragédia com corpos sem vida e náufragos chegando às praias, criancinhas inclusive, provocando imenso pesadelo e sofrimento para as populações litorâneas, especialmente as da Ilha Tinharé. Essas populações nativas, a gente de Morro de São Paulo e Gamboa em especial, passaram a viver situações antes desconhecidas. O mar, fonte abundante de bonanças transforma-se então em local a ser evitado, é agente ameaçador na presença de submarinos que espalham medo, insegurança e impedem a população de sair para a busca do seu sustento, da subsistência de suas famílias. Para alívio da situação, restavam os canais internos e a fartura dos manguezais e, ainda, o fato de que naquele tempo se produzia no interior das ilhas, em pequenos sítios e roçados, grande parte das fontes de carboidratos como mandioca, aipim, batatas, inhames, milho, abacaxi, abóbora, bananas, mamão, melancia e outras frutas, bem como café, arroz e especiarias, em pequena escala e de forma localizada. Meu primeiro arroz integral foi em Ilha do Barro! Tudo isso, além do coco e do dendê que sempre compuseram, de muitos modos, a cesta da alimentação do povo nativo das ilhas. Mas, como ganhar dinheiro para compras indispensáveis: sal, querosene, carne de sertão, açúcar? Diante do quadro destes dias do século XXI, quando até o tempero da moqueca é comprado fora, não parece inoportuno perguntar: com que as terras do arquipélago, neste momento de violentas disputas, estão contribuindo para a cesta da alimentação do povo?
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