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HISTÓRIA, INCÊNDIOS E ACERVO CULTURAL

  • Foto do escritor: Antônio Isaías Ribeiro
    Antônio Isaías Ribeiro
  • 30 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Senti grande abatimento quando se deu há dois anos o incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. O incêndio é destruição de parte da identidade, não somente do povo do Rio, mas também a de quantos, pelo país afora, tiveram a oportunidade de um dia visita-lo. Visitei o museu por duas vezes em 1991 e 1995. O incêndio queimou boa parte da história, destruindo em muita gente a razão de ser brasileiro e denuncia quanto somos descuidados com a nossa história. Denuncia mais. Denuncia como nos descuidamos da conservação dos bens públicos, do patrimônio histórico e até das manifestações culturais.

Falando de Museu Nacional, lembro o acervo de Gilson Mucugê. O entusiasmo daquele homem ao colecionar objetos da arte indígena e fotografias, documentos e publicações antigas, segue sem adequada compreensão de sua importância entre nós de Cairu. Se presentes em seu acervo e disponíveis à consulta pública, possivelmente nos daria conta de fatos históricos mal compreendidos como o incêndio que devorou o prédio antigo da câmara de vereadores, na década 1980 e a prisão dos frades alemães do Convento de Santo Antônio em 1942. A população abaixo de cinquenta anos sequer tem notícia desses fatos.

No “desaparecimento” do acervo de Gilson vejo culpa coletiva, justamente por faltar a herdeiros, à comunidade e lideranças da sociedade a necessária e correta dimensão de sua importância enquanto valor comunitário, histórico e cultural. Faltou a todos nós o que não escapou à observação de Jorge Amado, quando o visitou em companhia de Carybé, ainda em 1996:

“Conservem o museu, pois tudo aqui é importante; quando voltar aqui, quero encontra-lo funcionando”.

A história não está apenas em museus. A história encontra-se nas ruas, em prédios históricos, como o Convento Franciscano e o Sobrado Grande; está no conjunto fortificado de Morro de São Paulo e na Fonte Grande ou nas Igrejas do Santíssimo, em Boipeba e São Francisco Xavier, em Galeão. Todos, frutos de concepções arquitetônicas que enriquecem cada local e o seu povo de significados. A história está também na cultura imaterial e nas tradições locais que devem ser preservadas e incorporadas, com sua riqueza de imagens e melodias, aos currículos escolares, num processo dinâmico de tradução da parte da Base Nacional Comum Curricular referente à Educação Infantil e aos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Não se pode esquecer que a história continua a se construir. Há vários riscos no horizonte, alguns associados à nossa incipiente Educação, com resultados evoluindo em direção preocupante no Ensino Fundamental e Médio. Nossas escolas precisam deixar logo a rasteira de avaliação oficial e elevar as taxas de aprendizagem, que estão simplesmente em escala desonrosa.

Cairu precisa partilhar dos avanços que a humanidade já alcançou na construção de uma sociedade com igualdade de oportunidades para todos, colocando a Educação na posição de primeiro pilar desse desejado edifício.


Isaías Ribeiro

Das Ruas de Cairu, novembro’2020


 
 
 

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